Prefeitura promete nova orla para Guarus

Sem manutenção|Degradação e abandono são características do local; Vídeo divulgado em rede social mostra perspectiva de como ficará a área após a revitalização (Fotos: Silvana Rust)

O entorno do Rio Paraíba do Sul, em Campos dos Goytacazes, abrange parte das regiões de Guarus, Lapa e Centro com uma orla urbanizada. Nos últimos 33 anos, ela sofreu diversas alterações na paisagem com projetos urbanísticos. Abandono, manutenção inadequada e degradação da Orla I (Guarus) e Orla II (Lapa) aconteceram nas últimas gestões municipais. Um projeto de revitalização da área foi divulgado pelo prefeito Wladimir Garotinho em suas redes sociais no dia 7 de maio. De acordo com publicação no Diário Oficial do dia 9, o projeto foi orçado em R$ 3.989.903,95, e vai atingir o perímetro entre as pontes General Dutra e Saturnino de Brito.  A reportagem ouviu moradores e arquitetos e urbanistas que apoiam mudanças, mas com algumas considerações e sugestões.

Em matéria postada no site J3News do dia 7 de maio, é possível visualizar o projeto divulgado por Wladimir, em um vídeo de animação. “A nossa nova orla terá ciclovia, parque pet, áreas de lazer, letreiro artístico ‘eu amo Guarus’ e muito mais”, comentou o prefeito no Instagram, sem definir data para início das obras. De acordo com nota da assessoria da Secretaria de Obras, “na quarta-feira (15) foi publicada a Portaria dos Fiscais e, nos próximos dias, será assinada a Ordem de Serviço, a partir da qual a empresa terá prazo de 12 meses para a execução dos trabalhos em toda extensão da Orla, no trecho compreendido entre a Ponte General Dutra, no bairro Jardim Carioca e a Ponte Saturnino de Brito, no bairro Vicente Dias, com as intervenções apontadas no projeto”, informou.

Além do vídeo do Projeto de Revitalização da Orla I (Guarus), elaborado pela Empresa Construcon, assinado pelo engenheiro Merhi Daychoum, a reportagem teve acesso a algumas ilustrações de como deverá ficar a nova orla com as intervenções e obras. Estão previstos ciclovia em piso cimentício com espessura de 8cm e iluminação em todo o trecho; pintura colorida em tinta acrílica; sinalização com programação visual vertical e horizontal; cobertura plena de rede e internet wi-fi; recuperação e reforma do dique existente.

A Orla de Guarus, criada pelo então prefeito Anthony Garotinho, em 1991 era completamente diferente, sem pavimentação e canteiros com jardins. Na ocasião, a prefeitura construiu também quiosques e bares concedidos a permissionários. Um destes é o comerciante Rubens Nogueira. “Estou aqui há 41 anos. Antes do quiosque havia um trailer. Eu sou favorável a qualquer obra que traga melhorias e que eu não seja removido. Fiz reformas no prédio e entorno por minha conta. Há vários quiosques abandonados e em ruínas”, comenta.  Outro comerciante veterano na Orla de Guarus é Wanderley Paes, que trabalha há mais de 30 anos no Mercado de Peixes, ao lado da Ponte Barcelos Martins: “Aqui precisa melhorar tudo. A revitalização pode ajudar a trazer o cliente de volta para cá. Aqui não tem estrutura nenhuma na peixaria. O banheiro é indecente, sem condições de uso. Estamos expostos a sol, vento e chuva. Trabalhamos porque precisamos. Já fomos 45 peixeiros. Depois caiu para 20 e, atualmente, somos só dois profissionais. Falta movimento de clientes pela situação precária de quase toda a orla”, diz Wanderley. O poder público pode tentar minimizar os transtornos, mas há, também, desrespeito de alguns moradores com a área. A reportagem flagrou lixo e entulho sendo espalhados em diversos trechos da orla.

Anfea|Diretor Gustavo Manhães (Foto: Arquivo Pessoal)

Análise de arquitetos e urbanistas
O J3News consultou alguns especialistas em projetos urbanísticos, como o diretor da Associação Norte Fluminense dos Engenheiros e Arquitetos (Anfea), Gustavo Manhães, para analisarem o Projeto de Revitalização da Orla de Guarus. “A gente não teve acesso a 100% do projeto. Observo o que foi publicado que são apenas algumas questões de impacto visual. Não tem muita alteração do que já existe. Em nível de projeto, a gente percebe uma reforma ou maquiagem, sem mudança de aproveitamento no espaço. Há repetição de quiosques. Alguns questionam esse tipo de ocupação. O rio é um elemento de contemplação em quase todos os lugares do mundo. Não sei se a alteração vai impactar a população. O que eu sempre questiono é a falta de debates do órgão público com as entidades da sociedade civil organizada. Falta diálogo. Quem vai usar é a sociedade, a população. Seria bom analisar com as pessoas a melhor forma de aproveitamento e contemplação do Rio Paraíba”, diz Gustavo.

IFF|Professor Luciano Falcão (Foto: Arquivo Pessoal)

Para o professor do curso de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Federal Fluminense (IFF), Luciano Falcão, a cidade de Campos tem carência de espaços livres públicos de lazer e prática de esportes. “É natural que as orlas dos cursos d’água sejam o local adequado para esta implantação, como é visto em muitas outras cidades. O que se vê com frequência em projetos de áreas públicas é que estes não são realizados com a participação da população. E, como consequência, esses investimentos não trazem o resultado esperado, pois não são ‘adotados’ pelos prováveis usuários. Não são, necessariamente, grandes intervenções que irão resolver o problema. É absolutamente necessário que estes espaços às margens do rio que cruza a cidade sejam ocupados com atividades. Isso traz uma compreensão maior da paisagem natural que cerca a cidade, tanto do ponto de vista ambiental quanto de autoestima, cidadania e identificação. A arquitetura da paisagem se faz presente diariamente nas nossas vidas, seja com impactos positivos ou negativos. No caso específico dos locais mencionados, um exemplo muito rico do que a cidade pode oferecer aos seus moradores, independente de nível social ou econômico”, considera.

Uenf|Luciane Silva (Foto: Arquivo Pessoal)

A professora e pesquisadora Luciane Silva, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), estuda Sociologia Urbana. Para ela, a revitalização da orla deve ser debatida na Conferência Municipal das Cidades, prevista para ocorrer até o fim de junho.  “A gente tem que fomentar a participação dos conselhos, a construção de plenárias democráticas de decisão. Nos últimos anos, temos visto a administração Garotinho investir em praças com possibilidade de esportes em áreas como na Baleeira. Há certo embelezamento de áreas como a Portelinha. Sem dúvidas, é importante que o poder público faça esse investimento, mas há questões bem complicadas na própria relação histórica que se construiu com Guarus, já que existe todo um estigma associado a essa região. A melhoria de uma orla na tentativa de integrar Guarus de forma mais positiva à cidade, não basta revitalizar sem investir em políticas públicas de acesso aos usos do espaço; programações de interesse desta população em uma cidade que explicita grande preconceito pelo lado de lá da ponte”, avalia.

Sugestões para além da margem
A Orla II, no Cais da Lapa, ainda está em obras. O projeto de revitalização orçado em R$390 mil, foi  iniciado em 3 de fevereiro de 2023, com prazo para conclusão em 120 dias. Durante a semana, a reportagem verificou que três quiosques seguem em reforma para abrigar a Secretaria de Turismo. As paredes do dique de contenção receberam pintura dentro do processo de revitalização, mas falta ainda concluir obras. Em dezembro de 2019, o ex-prefeito Rafael Diniz, chegou a inaugurar a Nova Orla, mas o espaço seguiu com pouco ou nenhum aproveitamento.

Com o novo projeto para a Orla de Guarus, acredita-se que a conclusão só acontecerá em 2025, já que a previsão de execução obras é de até 12 meses.  O arquiteto e urbanista Rodrigo Porto considera o entorno do Rio Paraíba do Sul, que une o Centro a Guarus, agradável, belo e útil. “Adeptos da corrida e da caminhada já utilizam a via de Guarus que se apelidou como ‘o zerão’ entre as pontes. A atividade física ali não é praticada com tanta intensidade devido à baixa iluminação e insegurança. Já é comprovado urbanisticamente que, mais do que policiamento, que é importante, pessoas são o item que mais traz segurança. Pessoas atraem pessoas que criam a sensação efetiva de segurança”, considera.

Comerciante|Fernando Cabral (Foto: Silvana Rust)

O comerciante e ciclista esportivo Fernando Cabral é português. Ele vive em Campos desde 1979 e considera que é preciso verificar as condições dos diques. “Antes de pensar na reforma da ciclovia, da estrutura, temos que pensar na reforma do dique, reforçar sua base. A ciclovia está toda infiltrada desde 2000. Com a cheia que nós sofremos em 2007, só piorou. Vejo a reforma da prefeitura com bons olhos. Porém, tem que priorizar essas questões”, diz.

As condições do piso das calçadas e ciclovia são criticadas por moradores e usuários da orla, como Rosenildo Nogueira e João Joaquim, do Jardim Carioca e Talvane Angelo, do Parque Rio Branco. Todos os dias eles passam pela via. Pessoas de outros bairros também utilizam o local. “Venho da Pecuária  para correr o zerão. São 8 quilômetros de percurso. Esse pavimento daqui precisava alinhar mais, porque na hora que a gente tá correndo, desgasta muito  ficar desviando de buracos. Machuca o tornozelo e o joelho. Gosto de respirar o ar puro pela manhã e interagir com outras pessoas”, diz o empresário Carlos Artur Nogueira.

Rodrigo Porto

Com uma extensa vegetação às margens do Rio Paraíba, poucas pessoas costumam desfrutar da área. A reportagem flagrou um grupo de pescadores amadores sob as árvores. “Elas precisam de podas para melhorar a iluminação e segurança. É comum pessoas suspeitas e usuários de drogas, infelizmente”, diz Maicon Barbosa, morador do Cidade Luz. Quem também admira o rio e a pescaria é Wilson Miranda, morador do distrito de Santa Maria. “Venho de lá para pescar. Quando estamos em grupo, me sinto seguro. Aqui é muito bonito e poucos campistas aproveitam esse lugar”, diz. O arquiteto Rodrigo Porto considera a área verde da Orla de Guarus bastante positiva. Temos ainda a vista da cidade que é muito bonita. No contexto geral, a ideia de revitalizar é integrar efetivamente, algo que se deixou esquecido durante muitos anos”, conclui. 

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