Para marcar a passagem dos 40 anos do acidente na plataforma de Enchova, ocorrido em 16 de agosto de 1984, um dos com maior número de vítimas na indústria do petróleo brasileira, o Sindipetro-NF promove uma exposição na sede de Macaé, que contará a história do acidente, apresentará depoimentos de trabalhadores que vivenciaram o momento, apresentará a importância da unidade no cenário da década de 80, além de fazer uma homenagem às vítimas. Na ocasião, 37 pessoas morreram e 19 ficaram feridas.
A mostra será lançada no dia 19 de agosto, às 17h e ficará aberta aos interessados até o dia 20 de setembro, das 10h às 20h. Qualquer pessoa poderá visitar a exposição. Depois a mostra seguirá para a sede do Sindipetro-NF em Campos dos Goytacazes.
O acidente
“Eram 3h30 da madrugada de quinta-feira, 16 de agosto quando um vazamento de gás, seguido de forte explosão e incêndio, fez estremecer as 22.600 toneladas da estrutura de aço da plataforma central de Enchova. Naquela madrugada fatídica se tornou um verdadeiro pesadelo para os 254 homens que trabalhavam em suas instalações”
Revista Manchete, edição 1689 de 1 de setembro de 1984 .
O acidente de Enchova, ocorrido em 16 de agosto de 1984, é um marco trágico na história da exploração petrolífera no Brasil. O incêndio foi causado por uma explosão que ocorreu durante uma operação de manutenção. A explosão inicial foi seguida por uma série de outras explosões, agravando ainda mais a situação e dificultando as tentativas de controle do fogo.
As chamas intensas e a fumaça densa tornaram o resgate dos trabalhadores extremamente difícil. Muitos deles se viram obrigados a pular no mar para escapar do incêndio, enfrentando grandes riscos de afogamento e queimaduras. Segundo relatos de trabalhadores que estavam a bordo da plataforma, os pessoal da segurança informou que o fogo estava descontrolado e as pessoas foram para o ponto de encontro e de lá para as baleeiras. Enchova tinha cinco baleeiras com capacidade para 51 pessoas em cada. Todos estavam muito assustados, a grande maioria era jovem na faixa dos 20 anos e nunca tinham vivido uma situação parecida.
As pessoas aguardavam o momento de descer em ordem, mas após algum tempo foram orientadas a voltar ao ponto de encontro. Foi ali que souberam que os cabos de uma baleeira na hora da descida ficou engatado, o que fez com que ela quebrasse e trabalhadores despencassem no mar a uma altura de 18 metros. “Na hora em que a baleeira deveria ser solta, de uma só vez nas duas pontas, ela só se desprendeu de um lado. Com o peso, mergulhou de bico no mar, calculo que a uns 6 m de profundidade. Consegui sair do meio das ferragens, mas vi muita gente morta lá dentro,” disse Pedro Paulo de Souza que estava na baleeira que desceu irregularmente.
Este acidente resultou na morte de 37 trabalhadores por conta da queda da baleeira. Além dos mortos, a tragédia deixou 19 feridos.
“Vi um pedaço da baleeira preso no cabo de aço. Muitas pessoas se descontrolaram, ficaram nervosas. Percebi que não tinha como fugir daquele lugar. Só pensava que ia morrer, não conseguia pensar em mais nada. De um lado, um incêndio ameaçava tomar conta da plataforma. Do outro lado havia o mar. Um amigo meu estava morto. Não havia saída para nós” – disse Luís César Nascimento, 63, operador de produção na Petrobrás, em entrevista à Folha de São Paulo em março de 2001.
As mudanças pós acidente
O acidente de Enchova é lembrado até hoje como um dos piores desastres industriais do Brasil e do mundo. Serve como um doloroso lembrete da importância da segurança no trabalho, especialmente em setores de alto risco como a exploração de petróleo.
A tragédia destacou a necessidade urgente de melhorias nas normas de segurança e nos protocolos de emergência nas operações de extração de petróleo, que só aconteceram com muita pressão da categoria petroleira.
Nesses últimos anos, não ocorreram grandes mudanças em relação à gestão de segurança nas empresas de petróleo e principalmente na Petrobrás. Muitas vidas foram ceifadas em acidentes de trabalho, que a categoria se nega a esquecer. O que houve de conquista na área de SMS como o direito de recusa, a participação nas comissões de apuração de acidentes e interdições de unidades, a construção da NR-37 foram arrancadas na luta, através de greves e muitas denúncias. Segundo a diretoria do sindicato, “hoje o trabalhador vive uma realidade difícil nessa área com os desinvestimentos e o baixo efetivo, as denúncias de assédio, problemas de saúde mental e sobrecarga de trabalho só aumentam, inclusive com milhares de demissões de trabalhadores terceirizados. Cabe ao Sindipetro-NF e a categoria resistir, denunciar e se manter unida na busca de avanços que só virão com mobilização e organização”.
Fonte: Ascom
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