A história da atleta Valdileia Martins, do salto com vara, é de superação do começo até a chegada às Olimpíadas: no início, ela começou a saltar com vara de pescar nos acampamentos do MST (Movimento dos Trabalhadores sem Terra), onde vivia com a família. Só depois, a atleta conseguiu participar de treinos e usar os materiais adequados.
A cinco dias da primeira disputa nas Olimpíadas, a Valdileia perdeu o pai, seu maior incentivador, e agora por causa de uma lesão no tornozelo, abandonou a disputa decisiva. Mas deixou registrados: a determinação e o fato de ter igualado a marca do Brasil, de saltar 1,92 metro.
“O saldo é positivo. Eu igualei o recorde brasileiro e fui para a final olímpica. Era algo que eu queria e que eu treinei para isso. Se eu cheguei aqui não foi por acaso. Você precisa estar muito bem mentalmente para chegar nas Olimpíadas e conseguir fazer o seu melhor”, disse.
Garra e força
A história de vida de Valdileia Martins só foi revelada durante as Olimpíadas. Segundo ela, sofreu muito preconceito por fazer parte do MST, então para evitar mais discriminação, apenas dizia que vinha do sítio.
“Eu recebi inúmeras mensagens de todo o país. O pessoal ficou muito orgulho e satisfeito. O pessoal me vê como inspiração, como se você fosse capaz de romper qualquer barreira”, ressaltou a atleta.
Olhando para atrás, Valdileia se recorda: “Hoje eu me sinto incrível. Eu fico olhando os vídeos e falando: ‘cara, eu saltei’, ‘eu voei!’, ‘olha meu grito que top’. Eu acho que o pessoal está orgulhoso desse feito e de toda a história”.
100% nas Olimpíadas
Nas Olimpíadas, a atleta preferiu não se lembrar do passado, mas viver cada momento ali.
“É muito emocionante, muita gente gritando, então você precisa realmente estar 100% mentalmente concentrada no que você quer e fazer o resultado que você precisa”, disse Valdileia.
A atleta sofreu uma entorse no tornozelo esquerdo durante a disputa eliminatória de sua prova, realizada há dois dias, quando tentou anotar a marca de 1,95 metro, para bater de vez o recorde brasileiro.
Valdileia já tinha igualado a marca de 1,92 metro, garantindo seu lugar na disputa. Fez tratamento intensivo com gelo, bandagem, laser, aparelho, fisioterapia e medicamentos, mas não conseguiu se recuperar a tempo e ficou ausente da disputa por medalhas.
“Eu estou feliz porque eu cheguei e fiz o que todo atleta gostaria de fazer, que é o seu melhor. Eu fiz o meu melhor e fui para uma final olímpica. Todo mundo quer isso. Eu fiquei satisfeita com o meu desempenho. Queria saltar na final? Muito”, reagiu ela.
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A perda do pai
Pouco antes do início da estreia da filha nas Olimpíadas, Israel Martins, pai da atleta morreu. Ela ligou para a família sem saber o que fazer, se ficava nas Olimpíadas ou voltaria para o Brasil. A família decidiu que ela deveria seguir porque era o que o pai desejava para ela.
Seu Israel morreu, aos 74 anos de idade, e a atleta, que já estava em Paris. Ela acompanhou o velório do pai diante de uma chamada de vídeo pelo celular.
“Eu chorei à noite porque toda conquista que eu tinha, eu saia da pista e ligava para o meu pai. Ele é a primeira pessoa que sabia da minha vitória e da minha derrota”, lembrou a atleta.
Valdelia Martins, emocionada, pensa: “E quando eu saí de Paris, eu não tive meu pai para poder falar. E ontem eu falei: ‘cara, eu não vou ter mais esse momento com ele’. Mas assim, eu aproveitei todos os momentos com ele e eu falo que vivi tudo com ele” em entrevista ao OTD