Água em Campos: laudo aponta toxina que demanda atenção e concessionária diz não haver risco à saúde

Rio Paraíba do Sul – Foto: Silvana Rust

Em análise que atende a uma ação do Ministério Público o laboratório da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) aponta para o encontro de duas cianobactérias na água. O J3News teve acesso ao relatório enviado ao MP na sexta-feira (26). O documento expressa preocupação com os efeitos regulatórios e toxicológicos dessa toxina em animais e humanos. Após a divulgação da análise, em comunicado, a concessionária Águas do Paraíba reforçou que ”a água tratada distribuída à população está em conformidade com os parâmetros da legislação, própria para consumo, e não apresenta nenhum risco à saúde”. De acordo com o MP as amostras foram encaminhadas à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e passarão por novas análises de especialistas.

No detalhamento do laudo da universidade que foi enviado ao MP, as cianobactérias são identificadas. A primeira é uma geosmina, que confere gosto e odor de mofo e terra à água. O estudo aponta ainda que o composto pode conferir estas características a água potável.

A segunda substância é a que mais chama atenção. Segundo o laboratório, ela desperta cuidados, pois pode produzir potencialmente uma toxina chamada de saxitoxina.

Análise da Uenf aponta cianobactérias. Foto: Reprodução

O documento expressa preocupação com os efeitos regulatórios e toxicológicos dessa toxina em animais e humanos.

Ao J3News, o professor titular da Uenf, do Laboratório de Ciências Ambientais da Universidade, Carlos Eduardo de Rezende, disse que a situação merece transparência. “Acredito que devemos aproveitar crises como esta para melhorar o acesso à informação sobre a qualidade da água fornecida na cidade. Em conversa com o representante da empresa (Águas do Paraíba), destaquei a importância de criar um portal de transparência com os parâmetros importantes de qualidade da água. Não é suficiente apenas divulgar os parâmetros físico-químicos; além desses, é crucial incluir outros valores, especialmente aqueles referentes a substâncias que oferecem risco à saúde humana. Podemos e devemos fazer isso. É fundamental que aprendamos com essas crises para promover melhorias que beneficiem a todos”, declarou.

Após a divulgação do laudo pelo J3News, em comunicado, a concessionária Águas do Paraíba reforça que ”a água tratada distribuída à população está em conformidade com os parâmetros da legislação, própria para consumo, e não apresenta nenhum risco à saúde”.

Rio Paraíba do Sul. Foto: Josh

A nota informa ainda que “o relatório emitido pela Uenf confirma a presença de espécies já identificadas pela concessionária e divulgado em comunicado oficial emitido ontem (25/07).  Sobre a possibilidade da existência da Saxitoxina, a Uenf foi clara em afirmar que não possui em suas instalações capacidade de realizar tais análises laboratoriais e solicitou que a concessionária disponibilizasse os laudos. Ainda no dia 25 de julho, a concessionária enviou à UENF, ao INEA e à Prefeitura laudos (Relatório de ensaio 166487/2024-A-1.0 e Relatório de ensaio 165453/2024-A-1.0 em anexo esse documento) que traziam de forma explícita a ausência da Saxitoxina.

A concessionária acrescenta que, em cumprimento à portaria GM/MS Nº 888, vem monitorando o rio Paraíba do Sul preventivamente a respeito das espécies citadas, bem como os seus derivados metabólitos”, finaliza a empresa.

Confira trechos da análise do laboratório da Uenf:

1) há realmente um crescimento elevado da comunidade fitoplanctônica devido a baixa vazão e poucas partículas inorgânicas em suspensão. Estas condições oferecem o meio necessário para crescimento destes organismos microscópicos;

2) ainda não determinamos o quantitativo destes organismos por unidade de volume, o que é um passo relevante;

3) observamos a ocorrência de duas espécies que chamam atenção são elas, Dolichospermum circinale e Raphidiopsis sp. A primeira tem sido descrita na literatura científica como produtora de geosmina e 2-metilisoborneol. A geosmina confere gosto e odor de mofo e terra à água. Este composto pode conferir estas características a água potável, uma vez que, o tratamento convencional não é suficiente para removê-los.

A segunda espécie, Raphidiopsis SP, é que chama mais atenção e desperta cuidados, pois pode produzir potencialmente uma toxina chamada de saxitoxina… não significa que esteja produzindo e que, portanto, tenhamos níveis que possam estar acima do previsto pela legislação. Portanto, urge que estes valores existam dentro do monitoramento da empresa Águas do Paraíba ou então, que sejam realizadas estas determinações.

O laudo aponta ainda que “Uma pergunta que pode surgir sobre o tema é se existe forma de reduzir este tipo de odor e gosto, e, a resposta é sim, processo por nanofiltração sugere que há uma remoção quase que total enquanto aeração e dessorção são ineficientes”. No documento, o laboratório da Uenf aponta “preocupações com efeitos regulatórios e toxicológicos potentes em animais e humanos”.

De acordo com o MP as amostras foram encaminhadas à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e passarão por novas análises de especialistas.

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