“Não precisamos de nenhuma educação”… “Não precisamos de nenhum controle mental”… “Professores, deixem as crianças em paz”… Há exatos 45 anos as rádios começaram a tomar de forma incessante uma canção com essa letra. O efeito niilista era reforçado quando um coro infantil repetia os versos. Perto daquilo, canções anteriores com uma temática semelhante, a exemplo de School’s Out (a escola acabou), de Alice Cooper, pareciam brincadeiras de férias de verão. O hino mais politicamente incorreto da história do rock pelo critério educacional chegou ao topo das paradas na Inglaterra em 15 de dezembro de 1979 e, depois, tornou-se número um também nos Estados Unidos e em outros dezenove países.
A música em questão, Another Brick in The Wall (outro tijolo na parede), tornou-se um dos maiores sucessos da carreira do Pink Floyd. Tocou muito por aqui também na época e até hoje entra nas playlists de clássicos do rock. Ela fazia parte do The Wall (o muro), um álbum duplo conceitual que narrava a história de um astro pop depressivo e auto-destrutivo, Pink. Cansado da fama e do assédio, ele resolve construir um muro para isolá-lo do mundo. A turnê do disco repetiu o conceito: à medida em que as canções eram executadas, era erguido um muro entre a audiência e os músicos.
Em 1982, o diretor Alan Parker lançou um filme baseado em The Wall. Uma das cenas mais famosas é justamente a de Another Brick in The Wall, quando estudantes passam por uma esteira rolante e caem num moedor de carne. Confira aqui o trecho:
Anteriormente, o Pink Floyd já havia lançado um dos álbuns mais bem-sucedidos da história, The Dark Side of The Moon (o lado oculto da lua). O sucesso teve um preço, desencadeando uma longa sucessão de brigas internas na banda. The Wall foi o último suspiro do grupo com sua formação de maior sucesso, que incluía o guitarrista David Gilmour, o baixista Roger Waters, o tecladista Rick Wright e o baterista Nick Mason. Durante as gravações as fissuras já eram claras, tendo como ponto mais agudo a demissão de Rick Wright no meio dos trabalhos. Nos shows para apresentar The Wall, ele foi reincorporado ao grupo, mas como músico convidado, ganhando salário. Curiosamente, acabou sendo o único que ficou com algum dinheiro na época, pois a cenografia do show era tão cara que as bilheterias não foram suficientes para pagar as despesas.
Outra ironia é o fato de Another Brick in The Wall ter se tornado um hit no final dos anos 70, quando o mundo musical era tomado de assalto pelo movimento punk. A turma surgiu para destronar os velhos músicos milionários e usava camisetas com inscrições provocadoras, como a que trazia a inscrição “I hate Pink Floyd” (eu odeio o Pink Floyd). Pois foi justamente um autêntico dinossauro do rock que alcançou o sucesso com um hino de mensagem autenticamente punk. “Não precisamos de educação”… “Não precisamos de nenhum controle central”… “Professores, deixem as crianças em paz”…