Nando Reis a VEJA, sobre luta contra o vício: ‘Minha vida era ruim’

Seu novo disco conta com trinta canções, quase todas autobiográficas. A inspiração vem da vida real? Como um sujeito ordinário, embora compositor, pressuponho que aquilo que me agrade possa também agradar aos outros. Tenho uma predileção por assuntos que fazem parte do cotidiano. Isso dá às minhas composições uma característica de universalidade que independe da questão geracional. Além disso, sou ruim de inventar histórias.

Esse é seu primeiro álbum criado sem estar sob efeito de álcool e drogas. Qual é a importância de falar abertamente sobre o vício? A vida é melhor sem drogas e álcool. Fui um usuário abusivo e dependente. Minha vida era muito ruim. Sou uma figura pública e a minha imagem e história ficaram marcadas por isso, seja por declarações, seja por shows em que eu me exibia em estado visivelmente precário. Historicamente, as drogas eram associadas a uma questão da criatividade. No entanto, no meu caso, em nenhum momento estar alterado garantiu que essa quebra da consciência produzisse algo de qualidade. É mito dizer que a droga faz você ser criativo.

Como superou o vício? Sou alcoólatra. Bebia desde os 13 anos. Alcoolismo não é algo que se cura. É uma doença. Não é um problema moral. Não sou vagabundo ou irresponsável. Sou uma pessoa doente. Sou membro dos Alcoólicos Anônimos, e uma coisa incrível no AA é conhecer outros exemplos e ter a solidariedade de seus semelhantes. Isso tem um poder reparador magnífico.

Quando foi a gota d’água para buscar ajuda? Foi em 2016, num show com Gilberto Gil e Gal Costa. Eles são meus pilares, meus ídolos. No ensaio, eu estava completamente alcoolizado. Fiquei assustado porque jamais poderia subir no palco com eles daquele jeito. Seria minha morte. Me deu um estalo. Parei logo depois. Meu último dia foi em 3 de outubro de 2016 — e planejo continuar assim.

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Na turnê Titãs Encontro, você mudou a letra de Nome aos Bois para criticar Bolsonaro e enfrentou a ira da extrema direita. Como lidou com isso? Quando tomei uma posição pública enfática a respeito do governo anterior, que foi aquela coisa horrorosa, veio essa beligerância. Sofro ataques até hoje. Cantei em Curitiba e fui vaiado. Caí na armadilha de ir contra minha própria crença de defender a inclusão. Sou um sujeito que defende a diversidade. Admi­to pontos de vista diferentes. O que não admito é a exclusão.

Publicado em VEJA de 11 de outubro de 2024, edição nº 2914

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